Coach do Coach

Os melhores profissionais e as melhores equipas têm um denominador comum: serem peritos nas competências intra e inter que perfazem as relações interpessoais entre todos os objectivos, as ferramentas e os meios.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O treinador que não sabe comunicar...não pode treinar - II

Em tempos escrevi para o jornal Record um artigo que tinha como temática principal da comunicação e da sua enorme importância para quem era treinador. A questão a limpar já é: todos nós comunicamos. É um processo bastante natural e por isso, para lá da comunicação intrapessoal, acabamos sempre por comunicar com os outros à nossa volta, seja voluntária ou involuntariamente.
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Costumo afirmar que o treinador não joga, mas participa (e muito) diretamente! E a sua comunicação tem um peso preponderante na acção dos seus atletas. Participa activamente durante os treinos e nas conferências, lidera os atletas, gesticula, fala com os atletas individual ou colectivamente, aponta, dá o exemplo, mas não pode ser ele a executar os movimentos técnicos ou tácticos durante a competição. Logo exige-se que consiga transmitir o que quer de forma muito eficiente. 

Alguns estudos afirmam mesmo que a relação e a comunicação que o treinador constrói com os seus atletas tem um peso enorme no desempenho dos atletas e das equipas.

Porque os atletas, de forma consciente ou inconsciente, também podem estar sempre a observar e a tirar as suas conclusões. E isto passa pela gestão do próprio treinador do seu impacto comunicacional e pela importância que o mesmo assume.

A comunicação é o que as pessoas realizam para trocarem informação entre si, utilizando sistemas simbólicos e processos para alcançarem esse objetivo. O treinador que até possa saber muito de tática, se não conseguir transmitir essa informação que recolhe para os seus atletas ou adjuntos, de nada vale, porque essa informação só será útil para uma pessoa, que não joga, o treinador. Necessita de transformar essa informação em acções e, para isso, tem de explicar aos outros o que é necessário que se faça. Não como ele entenderia mas como os atletas entenderão! 

Não é fácil alterar os nossos hábitos comunicacionais, nem comportamentais. Mas não querer arrasa qualquer possível alteração. É interessante verificar que alguns treinadores não mudam a sua forma de comunicar e ainda obrigam que sejam todos os outros a adaptar-se a ele.

Acrescenta-se que numa equipa e num jogo é importante ter presente que todo e qualquer comportamento é comunicação. Qualquer comportamento ou ausência de comportamento irá proporcionar um outro comportamento que bem interpretados são ferramentas muito importantes para quem lidera e também para os próprios atletas no seio das equipas. 

É também verdade que o treinador autoritário foi prevalecendo, até porque interessava apenas dizer aos atletas quais eram as tarefas a executar e com isto a comunicação utilizada era outra. Com isto resultaram jogadores com pouca capacidade de decisão, dependentes do treinador e das suas soluções. Actualmente a ênfase da aprendizagem é colocada na necessidade de proporcionar momentos de problematização ao atleta e de favorecer a autonomia decisional. E o treinador passou a ser visto como um facilitador do processo de aprendizagem, com estratégias de instrução, como o questionamento para desenvolver a consciência táctica e a compreensão do jogo, o desenvolvimento de afectividade e a responsabilização dos atletas no cumprimento das tarefas, para fomentar no atleta o comportamento prospectivo em detrimento do meramente reactivo. E aqui a comunicação necessária é muito, mas mesmo, muito diferente.

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