Coach do Coach

Os melhores profissionais e as melhores equipas têm um denominador comum: serem peritos nas competências intra e inter que perfazem as relações interpessoais entre todos os objectivos, as ferramentas e os meios.


terça-feira, 26 de dezembro de 2017

As dinastias das vitórias no futebol

Após algum tempo longe do blog, estou de volta. Deixo aqui alguns textos que apesar de se focarem em contextos específicos, são - na minha opinião - transversais.

Este saiu no Sapo 24:

Uma das características do ser humano é o seu desejo pelo sucesso, especialmente em contextos muito competitivos, como são as equipas de futebol. O sucesso no alto rendimento traduz-se em vencer, se possível, o maior número de vezes. O que leva uma equipa a vencer e atingir o sucesso é algo que motiva todos os agentes desportivos ligados ao fenómeno, especialmente se essas vitórias puderem ser regulares e até quem sabe atingir algo melhor que o sucesso pontual, que são as dinastias de vitórias.

Os treinadores costumam dizer que chegar ao topo é muito complicado, mas manter-nos lá é ainda mas difícil. Não só porque não existem receitas concretas para o sucesso, como todos os campeonatos têm contextos distintos e quem vence permite sempre que a concorrência possa adaptar as suas estratégias de modo mais célere e com menos experiências.

A ciência denomina de equipas de elevado desempenho as que vencem constantemente campeonatos, dado que diferenciam das que ‘apenas’ vencem, pela questão temporal. Esta época desportiva são poucos os campeões que vão renovando a liderança dos seus países. Das ligas principais, e por agora, somente o Bayern repete a liderança e possivelmente o título.

De modo muito objetivo, assistimos a dois fenómenos esta época: o (re)aparecimento de novas equipas com mais recursos e melhores estratégias; e algumas vitórias da época passada não foram de equipas de dinastia, mas de uma espécie de corredores por fora. Por outro lado, a dinastia provoca uma bipolaridade de análise interna: vencer é a melhor motivação que existe para continuar a vencer; mas mesmo vencendo é necessário internamente que a estrutura organizacional se sinta sempre ameaçada. Um pouco como faz o tenista Nadal: tem a convicção de que pode vencer qualquer adversário, mas também a desconfiança que pode ser vencido por qualquer um, de modo a manter sempre os níveis de alerta.

O orgulho de pertença e o desejo constante de melhoria são duas das características que aparecem ligadas à dinastia. Um misto entre manter um núcleo de jogadores com qualidade que sintam a camisola, mas equilibrados com um misto de jogadores que querem sentir a vitória pela primeira vez. Um misto de jogadores que compreendam a cultura do clube e outros que naturalmente desejam ter títulos dê por onde der. Este equilíbrio, associado a um contexto competitivo exigente, acresce da necessidade de ter de ‘correr’ o dobro, dado que não é suficiente fazer as coisas bem, têm de se diferenciar sempre e de modo superior.

Quase a entrar nos descontos do artigo, o que se pede a Rui Vitória no Benfica é que faça a mesma omelete com diferentes ovos. Em que claramente, sem querer distribuir percentagens de responsabilidades nas vitórias e nas derrotas, nem tudo depende pela mesma margem da estrutura, da liderança e do treinador. A discussão sobre se os ovos são apenas diferentes ou piores, é outro tópico. O contexto de hoje é mais exigente, porque vencer 3 campeonatos é mais complexo do que 2 e consecutivamente.

A concorrência tem o papel facilitado de perceber com quem faz teoricamente melhor. Nem sempre ficam no plantel os jogadores que eram os que se pretendiam entre o ideal e o possível, entre os que sentem a camisola e querem continuar a vencer ou aqueles para quem o vencer deixa de cativar tanto como na primeira vez. Usando a expressão de Rui Vitória, a dinastia não é uma coisa fácil e por isso é que não é para todos ao nível dos vários campeonatos europeus.

Por último, o abismo entre a soberba, desleixo, rigor e ambição é como a vida dos treinadores. Se não nos colocamos sempre em alerta, também as equipas passam de bestas a bestiais e vice-versa. A dinastia é atraente para a história, para os filmes, mas pouco atraente para a economia. E o enviesamento entre o que se deseja e o que o contexto natural das coisas deveria ter é pouco usual na nossa sociedade. Por isso, quem quer vencer mais vezes do que os outros sabe que tem de trabalhar mais e melhor do que aquele que está próximo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A desresponsabilização do resultado

Mais uma crónica no MaisFutebol!

Um dos riscos dos treinadores e dirigentes culpabilizarem constantemente o exterior é a criação de uma certa cultura de desresponsabilização que possa passar uma mensagem errada para os atletas. E quando escrevo errada não é no sentido ético ou social. É errado porque pode criar nos atletas uma sensação que o que fazem é melhor ou menos errado do que a realidade. E com isto a capacidade de autocrítica é menos concreta e construtiva.

Não quero com isto assumir que os clubes se queixam sem fundamento. Existem vários casos que podem dar razão ao clube que se queixa. Mas a verdade é que quando esses clubes são beneficiados (e são quase todos) não se vê esse sentido crítico ou essa coerência e os jogadores podem ser levados a acreditar que fizeram tudo bem e que não há tantas coisas a melhorar. O velho exemplo de que quando o atleta é titular é mérito dele e quando não joga é por opção do treinador. Ou seja, o que é bom é meu mérito o que é menos bom é da responsabilidade dos outros.

Os melhores atletas são motivados de modo intrínseco. Podemos retirar várias informações por aqui e uma delas é que esses atletas têm uma maior capacidade de se motivarem por eles próprios do que os que são motivados de modo extrínseco, ou seja, por fatores externos a si. Geralmente pelo reconhecimento que têm, colegas, ambientes de estádio, objetivos criados pelos seus líderes.

Mas também pressupõe outro aspeto bastante importante: os atletas motivados mais pela questão extrínseca também são mais permeáveis a aspetos negativos. Ansiedade, ambientes conflituosos, ruídos, desresponsabilização das suas ações, etc. E quando um plantel se vê no meio de uma disputa de acusações e desresponsabilizações, nem todos têm a capacidade de discernir que dentro dos possíveis erros dos árbitros ou outros agentes desportivos, há uma percentagem pequena ou grande de aspetos que devem ser melhorados e que são garantidamente da sua responsabilidade. 

O risco de não se dividir que os árbitros erram de os insucessos da equipa se devem exclusivamente a esses erros, é que com esta última afirmação, retiramos dos atletas qualquer responsabilização e consequência do que fazem menos bem. E com isto deparamo-nos com um aspeto interessante de ser analisado: é que quando essas equipas não vencem e não há nada a apontar aos outros agentes desportivos envolvidos, os atletas têm alguma dificuldade em conseguir de modo claro, conciso e concreto em compreender onde podem claramente melhorar.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Por que razão avaliamos tanto o discurso dos treinadores

A liderança do treinador é um dos temas mais fascinantes do desporto, num ambiente geralmente competitivo onde o trabalho individual e coletivo estão interligados. E a liderança de uma equipa, pela complexidade e ambiguidade em que é exercida, continua a originar novas formas de a discutir, seja num gabinete de uma equipa profissional seja num café!

A verdade é que um treinador tem inúmeros desafios e em quase todos eles precisa de ter uma capacidade eficiente de exercer a sua liderança perante a sua equipa técnica ou os seus atletas, sabendo que o seu comportamento e a sua experiência são determinantes para o seu sucesso e o ambiente que cria através do seu relacionamento tem uma especial influência na entrega por parte do atleta.

Ao praticar a liderança o treinador socorre-se e envolve-se nas ações, tenta usar a parte motivacional e perceber a mente de cada atleta que faz parte da equipa. E é através da sua comunicação que alinha as suas ideias e as suas ações, para inspirar os atletas em prol dos objetivos. A narrativa por parte de um treinador para a sua equipa é composta geralmente por três elementos: a história do treinador, a história do «nós» e a história para ou sobre o contexto. E é na narrativa do treinador que compreendemos os seus valores, o que ele quer passar à equipa e como ele gere e potencia os desafios com aquela mescla de palavras e frases em várias direções.  

Continua aqui...

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Explicar o que é autonomia

Ouço frequentemente que temos de dar autonomia a estes ou àqueles. Tenho investido algum tempo nisto da autonomia. O doutoramento tem como denominador comum esta 'coisa' da autonomia. E é interessante que é difícil encontrar uma boa definição do que é isso de autonomia. O que percebemos é como uma pessoa autónoma se comporta ou se sente e é por aí que fazemos a relação direta no que deve ser isto de autonomia ou ser autónomo!
 
De acordo com a teoria da autodeterminação a autonomia facilita o preenchimento de uma das necessidades básicas da saúde psicológica de um indivíduo e fazem-no sentir que as suas ações vão ao encontro daquilo que são os seus valores e convicções em direção dos seus objetivos que refletem caraterísticas pessoais (Lindo, direi eu!). Ajuda ainda a criar pessoas 'inteligentes' (seja lá o que isto é para cada um de nós!) com a capacidade de lidar com os constrangimentos das tarefas.
 
A autonomia é considerada um sinónimo de aproveitamento das competências das pessoas e proporciona pessoas mais motivadas de forma intrínseca, satisfeitos e com melhores desempenhos (naquilo que se aplicam). A intenção de uma pessoa é a determinação para envolver um comportamento específico e é equivalente a estar motivado para agir. Tal intenção origina-se dentro do próprio indivíduo e está totalmente aceite pelo sentimento de ‘auto’. Quando é assim, reflete uma elevada autonomia e está associado com tipos de autonomia.
 
Com mais autonomia e numa perspetiva de auto-organização, as pessoas assumem maior responsabilidade na sua aprendizagem e desenvolvimento e os indivíduos desenvolvem uma mistura de exigência e aprender com os outros. Criar autonomia contextualizada é um dos desafios mais relevantes de um 'orientador' (Mãe, Pai, etc.).

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Mister, o que tu dizes é muito importante!

Às vezes damos por nós a defender causas e crenças sem compreender muito bem o alcance das mesmas e o impacto que podem provocar. O discurso e o conteúdo de um treinador – já para não abordar a postura durante a comunicação – são importantes e é fácil encontrarmos treinadores, atletas e dirigentes a defender a importância de o treinador ter uma boa capacidade de explanar as suas ideias, ser claro, conciso, concreto e empático.

Mas para lá da necessidade de passar a mensagem, e é através desses simples gestos que o treinador consegue transmitir o seu conhecimento, existe ainda outro fator muitas vezes esquecido ou ainda desconhecido: é através da comunicação e da intervenção, do tipo de palavras que se diz, o tom, o momento, o tempo que se dá para que seja um diálogo e não um monólogo, que se produz também inteligência no atleta!

Inteligência como? Porque transmitimos conhecimento? Não. Porque o diálogo, se as palavras forem mais positivas e interrogativas do que negativas e impositivas, permite que o atleta processe a informação e o tal conhecimento que o treinador transmite. Porque o diálogo após um exercício, questionando o que o atleta compreendeu do exercício ou ouvindo sugestões dos próprios atletas, permite que estes se debrucem sobre o conhecimento que têm na sua posse e «joguem» com ele. Cruzando informação, vendo mais além e alinhando com os objetivos do treino, do exercício ou da equipa.

Quando filmamos, gravamos e contabilizamos as intervenções do treinador o que podemos também captar é isto. O relacionamento entre um treinador e o atleta é das ações que mais impacto têm na predisposição para que o atleta dê mais de si. Esse discurso pode até ser num tom muito suave ou até simpático, mas pode ao mesmo tempo ser castrador da capacidade do atleta perceber o que faz, levando-o a apenas o fazer porque alguém ordena, manda, decide. Ao contrário, se for um discurso de questionamento e descoberta através do atleta com o treinador e não apenas ‘porque sim’ ou ‘porque não’, criamos no atleta uma capacidade de pensar mais.

E sim, o treino neste momento está formatado mais para fazer do que pensar. Ao contrário do jogo, que tem um misto de pensar e fazer bastante equilibrado. Então, se queremos jogar como treinamos ou treinar como queremos jogar, há aqui algo que não bate certo. E cabe a cada treinador perceber se prefere um atleta que execute apenas com um conjunto limitado de decisões que está capacitado para tomar ou criar aos poucos no atleta um ser pensante daquilo que faz e, com isso, compreender e decidir melhor. 

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Mudanças

Apenas para partilhar que por causa de exigências do facebook, foi alterada a página de www.facebook.com/coachdocoach para www.facebook.com/rmlanca

Acompanhem! Obrigado desde já.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

O que falta para o treinador avaliar o seu comportamento

A segunda parte do artigo. Para a semana terá a terceira. Aqui vai!

O último artigo no Maisfutebol foi sobre o erro na formação dos treinadores. E com isto a ideia não seria descobrir a ‘pólvora depois da guerra’, mas sim acrescentar e modificar o mindset durante o processo de formação de um treinador.

Acrescentei este parágrafo porque me parece resumir um dos degraus que falta no comportamento de um treinador, avaliar não apenas os seus conhecimentos mas também as suas competências: «Um treinador é muito mais do que um depósito de conhecimentos técnicos e táticos da modalidade. E de angariar cada vez mais conhecimentos ou a repetição de hábitos, que umas vezes até não são muitos positivos, mas à falta de indicadores de avaliação, lá se mantêm o hábito e a convicção que a experiência nos leva quase sempre a ser peritos nessa ação.»

Sabemos da importância dos comportamentos de um líder nos seus liderados, neste caso, nos atletas. O que falta então para que o treinador comece a avaliar-se nas suas atitudes e comportamentos? Escolheria dois caminhos: ter ferramentas ao seu alcance e estar predisposto para sair da zona de conforto, sabendo que é mais fácil avaliar o ‘fazer’ do que o ‘ser’.

Hoje avançamos para as ferramentas. Como pode um treinador avaliar-se sem ser por ‘achómetros’? O primeiro ponto e talvez o mais importante – mas ficará para o próximo artigo – é querer avaliar-se. E com o quê? Existem dois pontos essenciais: comunicação e ações. Logo é importante ouvirmo-nos e vermo-nos. Para isto, porque não usar um gravador para a voz e uma câmara? Porquê? Os conteúdos das nossas mensagens são deveras importantes. O tom da voz também. Para quem comunicamos e que distinções fazemos entre os feedbacks positivos ou menos positivos também.

Se o fazemos mais para o indivíduo ou para o coletivo também. E se quando o fazemos para o coletivo é mais pelo positivo ou o inverso. O que não falta são áreas e comportamentos para visualizar. E como devemos encontrar os tais indicadores de avaliação para que se fuja claramente aos ‘achómetros’? Essencial e fundamental: saber onde estamos e para onde queremos ir ou avaliar. Ter objetivos quantitativos. E dados também quantitativos e qualitativos.

Recolher por exemplo o tempo que despendemos a fazer o quê. Depois recolher dados do ‘como’. Ou seja, acompanhar os dados quantitativos com aquilo que diferencia os comportamentos, o ‘como’. Um treinador-adjunto ou outro membro da equipa podem perfeitamente contabilizar as ações. Facto importante: quem é avaliado não deve saber concretamente o que está a ser avaliado, deve apenas saber quais os comportamentos no total. E quem avalia, por exemplo, contabiliza um ou dois comportamentos desse conjunto total.

É um mundo para descobrir. Para lá de dinâmicas individuais e coletivas de trabalho, os treinadores vão cada vez mais analisando os seus discursos. Intervenções. É verdade que existem estruturas que têm mais condições para isso do que outras. Mas a principal estrutura é a nossa mente querer evoluir. E isso ainda vai sendo claramente o maior obstáculo.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

O erro na formação de formadores

O artigo semanal no MaisFutebol! Aqui vai:

http://www.maisfutebol.iol.pt/opiniao/rui-lanca/o-erro-na-formacao-de-formadores

"Os últimos anos foram passados a contribuir para a formação dos treinadores. Quer em processos de coaching quer no âmbito da formação dos treinadores - até por causa da renovação do título de treinadores -, tenho tido o privilégio de estar regularmente com treinadores com diferentes graus de formação e de distintas modalidades individuais e coletivas.

E se o processo de formação tem sofrido diversas alterações com o intuito de alargar o conjunto de áreas que o treinador deve dominar sem que isso obrigue a ser perito em todas, na minha opinião existe uma área que tem ficado ainda aquém daquilo que devem ser os mínimos para qualquer treinador, seja de grau I ou IV ou de infantis a seniores. É a componente do ser. E do pensar sobre si próprio não apenas enquanto «máquina» que executa ou realiza tarefas.

Um treinador é muito mais do que um depósito de conhecimentos técnicos e táticos da modalidade. E de angariar cada vez mais conhecimentos ou a repetição de hábitos, que umas vezes até não são muitos positivos, mas à falta de indicadores de avaliação, lá se mantém o hábito e a convicção de que a experiência nos leva quase sempre a ser peritos nessa ação.

Um treinador deve conseguir reunir as competências de saber ser, fazer e estar. E não apenas fazer. E é no saber fazer e ser/estar que aparece a capacidade de os treinadores conseguirem agir. Seja numa ação ou na reação. E quando conversamos com os treinadores e tentamos retirar informação sobre o domínio e como é que cada treinador se avalia nas suas ações em termos comportamentais, é que facilmente nos apercebemos de algo: o treinador tem sempre mais dificuldade em se avaliar a si próprio no aspeto comportamental do que na avaliação dos seus conhecimentos sobre a modalidade ou do treino.

O treinador tem na ponta da língua a resposta sobre os seus atletas que são mais motivados, dedicados, líderes, competentes aqui ou ali. E isso significa que existem de modo muito explícito os indicadores de avaliação na mente do treinador para essas competências. O que é necessário trabalhar é perceber a razão por que o treinador tem tanta dificuldade em encontrar indicadores de avaliação para si próprio nas competências comportamentais. No modo como comunica, lidera, motiva, decide, etc.

Este é o campo que deve ser incluído cada vez mais na formação de um treinador. Se os treinadores começam a compreender o impacto e a importância do treino mental no atleta e nas suas equipas, está na altura de o realizarem também para si. Até porque nunca é tarde para reforçar o papel muito importante que o treinador tem no desenvolvimento de competências nos outros. E não falamos apenas de competências técnicas ou do conhecimento da modalidade. Mas sim na motivação, na intervenção, em diversos campos que ajudam o atleta a saber decidir melhor."

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O perfil e o desafio de um gestor desportivo

O desporto enquanto temática é tão apetecível quanto subjetivo. E possivelmente atrairá muitos por ser apetecível e trazer com o tema algum mediatismo e poder, e será essa subjetividade que permitirá todos terem opiniões sobre quase tudo o que está relacionado com o desporto.

Alguém disse que em Portugal a grande maioria da população não gosta de desporto (aliás, a percentagem a rondar os 25 % de população que pratica desporto regularmente é sinal disso). As pessoas gostam do seu clube, depois gostam de ganhar e depois gostam da modalidade em si ou de algumas modalidades. Em parte isto é possível comprovar quando nos apercebemos – social e culturalmente isso também é aceite – que é possível observar constantemente pessoas que preferem ganhar mesmo através da batota do que perder justamente.

E é nesta subjetividade e interesse social que as pessoas trabalham quase todas no sistema e mercado desportivo. Com muita emoção, sentimentos de afinidade com vencedores e vencidos, e com a necessidade de englobar diversas competências comportamentais e de gestão, treino, medicina, nutrição, promoção, eventos, etc. E infelizmente muitas vezes é possível observar que tudo encaixa no mesmo «saco». Aqueles que são dirigentes e gestores desportivos em clubes de bairro, com os gestores de instalações desportivas públicas até aos dirigentes e gestores desportivos que estão inseridos em estruturas como empresas, federações e clubes de enormes proporções.

As realidades e necessidades são distintas. E com isto, provavelmente, exigirão desempenhos e respostas diferentes. Mas a base de alguém que trabalha na gestão desportiva deverá (deveria, face à escassez que se observa) ser um equilíbrio entre aquilo que são os valores associados à prática desportiva, as vocações e visões dos locais onde se trabalha mas também a necessidade imperial de «levar» para o desporto as preocupações de potenciar, maximizar e gerir os recursos à volta de cada realidade desportiva. Que pelo conhecimento que vamos obtendo são quase sempre parcos.

Não é difícil perceber que a taxa de penetração de pessoas no mercado com intuitos e competências de gestão e desporto é inferior comparativamente com aquilo que os clubes, federações ou empresas precisam. E talvez o maior desafio ou adversário é perceber que estas estruturas consideram que não precisam.

E é possivelmente por isso que contactando com treinadores, pais, atletas, professores, utentes, clientes e parceiros, percebemos que o desporto é demasiado valioso para ser entregue a quem não percebe que o desporto é para ser vivido, usufruído e valorizado. E não ser – talvez pelo mediatismo que proporciona – ser utilizado para usufruto próprio. E infelizmente, esta realidade é bem pior quando os recursos financeiros são disponibilizados pela população.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O que é o making-sense de um líder? Treinador? Professor?

Artigo do Mais Futebol desta semana! Aproveitar o exemplo de um dos treinadores portugueses. 

O treinador do Sporting esteve em foco mais uma vez pelas suas palavras. Uns concordam, outros não. Uns dão-lhe o benefício da dúvida, outros nem tanto. Mas quem interessa saber o que pensam daquilo que Jorge Jesus diz é a sua equipa e os seus jogadores. E quando afirmo que interessa saber o que os jogadores entendem das palavras do seu líder, é porque está mais do que provado que as mensagens do seu treinador são das ações que têm mais impacto na motivação dos jogadores. E os treinadores sabem isso. Ou deveriam saber.

O que tem a ver com isto o termo making-sense?

De tempos a tempos somos confrontados com estrangeirismos. Uns ficam outros nem tanto. Mas o que é isto? É um processo sobre a narrativa que criamos e que nos permite um espaço apropriado onde examinamos a identidade e permite coabitar com as ambiguidades e contradições existentes de quem lidera. Um processo que podemos observar nos treinadores, educadores, professores, etc. E permite ao autor da narrativa explicitar o seu ponto de vista sobre algo e reconhecer que ao contar a sua história sobre si ou outro, concede-lhe a vantagem de usar o seu filtro para condicionar positivamente com as informações temporais, culturais, históricas ou espaciais.   

O que isto tem a ver com Jorge Jesus ou com os treinadores? Os treinadores convivem muito num processo solitário. Para lá da equipa técnica e do perfil de líder de cada um, o treinador pensa e repensa muito na sua mente. Uma tentativa constante de criar através do seu estilo interpessoal uma especial influência no comportamento do atleta e essa relação baseia-se muito em tudo o que é comunicação.

Quase que podemos retirar daqui que é um processo consciente e intencional de criar um discurso e uma filosofia com a tentação de motivar e alinhar todos numa só direção. De que aquilo que cada treinador gostaria de dizer, que seja dito de modo a criar um efeito positivo nos seus jogadores. E o making-sense de Jorge Jesus? Nós não privamos nos espaços fechados entre JJ e a sua equipa. Por isso analisamos aquilo que nos é possível receber. A comunicação de JJ nas conferências, pré e pós-jogos e durante os jogos! E o que vemos?

Que Jesus é dos poucos treinadores que ainda mantém uma vertente genuína tão grande que nos faz parecer que o making-sense de JJ é quase nulo. E que isso nos permite, quando ouvimos JJ, pensar que de facto o treinador português considera que tem uma crença enorme que aquilo que pensa não deve sofrer qualquer filtro perante o discurso para dentro e para fora.

O que fez com que JJ viesse posteriormente dizer que afinal as suas palavras eram outras e com outro significado é uma novidade. E é este fenómeno do treinador do Sporting vir pegar nas suas palavras que é bastante interessante, pois significa que JJ – ou outro responsável – percebeu que as palavras poderiam ter um impacto negativo nos seus jogadores. E todos nós sabemos que o treinador deve incutir na sua comunicação e ação uma coerência e uma eficiência fundamental. Daí a importância do mesmo preparar-se, criar uma identidade ou uma marca, saber transferir, criar e treinar a sua narrativa para que a mesma ajude a atingir os seus objetivos. 

E só tempo dirá se Jorge Jesus irá manter-se fiel às suas crenças ou não.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Todos os treinadores conseguem ser líderes?

Crónica no MaisFutebol desta semana.

A discussão não é recente mas também vai vivendo de crenças. Várias. Mas felizmente o tempo vai-nos dando cada vez mais episódios para se observar e analisar sobre diversos treinadores que em diferentes etapas da sua carreira vão conseguindo com maior ou menor dificuldade impor as suas ideias. Por outro lado, outros treinadores com inúmeras oportunidades raramente conseguem atingir os resultados que teoricamente os jogadores fariam prever.

Para destacar os que mais vencem, poderíamos colocar nesta lista mais atual nomes como Guardiola, Mourinho ou Ancelotti, sabendo que de fora ficam muitos mais. Mas mesmo estes três também perdem. E quando perdem, todos nós disparamos um conjunto de razões em que tentamos encontrar relação direta entre os resultados e as ações que acontecem em campo. E não lhes falta na grande maioria das vezes recursos para que atinjam quase sempre bons resultados. Do outro lado também existem adversários, é verdade, mas também sabemos que há qualquer coisa mais para lá disso.

E o que é? Colocaria o tema da liderança ao barulho. E como? A verdade é que a alta competição é fria, cruel e está sempre à procura do falhanço para nos fazer lembrar que quem joga e vence são os jogadores. E são os jogadores porque são eles que pela regra podem andar lá dentro a lutar, correr, rematar, defender, etc.

Pode parecer La Palice, mas é mesmo assim. Onde entra então o treinador? Até porque eles possuem muito conhecimento, mas isso hoje em dia é cada vez mais facilmente possível captar em cursos, internet, observando ou copiando. Mas não é isto que faz a diferença!

O que faz a diferença é a capacidade e a habilidade de transferir para os jogadores o conhecimento. Aquilo que o treinador pretende que seja realizado. E ainda mais importante, o como! E aqui entra a liderança, o seu conjunto de ações. Crenças, motivações, perfis comunicacionais e relacionais. É isto que também diferencia os bons e maus momentos das equipas. O treinador maestro é diferente de treinador ditador. Maestro não apenas para gerir e ter à sua disposição um conjunto de talentos, mas para lhes dar mais liberdade, autonomia nuns momentos e controlar e comandar noutros. E Mourinho, Guardiola, Conte, Fernando Santos por exemplo sabem isso melhor do que qualquer um de nós. E também se questionam porque às vezes o seu perfil é o mais adequado para conseguir que os seus jogadores estejam no topo da motivação e foco e por outras vezes não seja suficiente.

Como podemos analisar ou responder a esta questão? Se retirarmos os treinadores em escalões de formação – e mesmo aí a discussão levaria muito tempo para encontrar respostas próximas da unanimidade -, todo o treinador treina para que as suas equipas e atletas vençam. E quando não vencem, mesmo que seja contra adversários teoricamente mais poderosos, fica sempre um sentimento de insatisfação ou desalento.

Percebe-se que os treinadores se auto-titulam de líderes. E também concordaria. Precisando primeiro de questionar qual a definição de liderança que cada um de nós utiliza. Os verbos que agarramos à tarefa de liderar são importantes para nos auto-definirmos como líderes, mas depois de falar com vários treinadores e observar como as equipas reagem, percebe-se que é importante destacar isto: os treinadores mandam e comandam nem que seja à pressão, mas isso na minha opinião já não é liderar!

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

As competências que (não) existem no desporto

Crónica com seis anos e cada vez mais actualizada. Infelizmente...

“As competências que (não) existem no desporto”

Dizem que há uma primeira vez para tudo. Esta será a minha primeira crónica, deixando de lado a rigidez técnica dos livros. Tempos houve que também realizei as minhas primeiras críticas ao que se passava no desporto. Não sei se de uma forma mais descontextualizada, menos fundamentada ou com mais emoção.
Mas desde há algum tempo que assumo que abordar o fenómeno desportivo com a racionalidade exigida, é uma tarefa que implica alguma coragem e perspicácia, pois o desporto propriamente dito, e tudo o que o rodeia, é um assunto para a grande maioria da sociedade, de senso comum e de ‘entendedores curiosos’, o que dificulta qualquer abordagem mais técnica e rigorosa.


Não quero com isto dizer que as pessoas não possam dar a sua opinião sobre ‘isto’ ou ‘aquilo’. Nada disso! Até porque a criação de requisitos para abordar o desporto tinha outra repercussão, que seria a eliminação de uma grande quantidade de trabalhos por serem ocupados por pessoas pouco qualificadas.
A actividade desportiva tem sido utilizada com maior frequência como meio propedêutico, de estimulação ou de potenciação de uma forma de estar na sociedade que poderá ser definida como mais correcta. Através de diversos projectos utiliza-se o desporto no voluntariado e vice-versa, como forma de tornar os cidadãos mais activos, de participarem nas actividades sociais, de aprenderem a partilhar, a trabalhar em equipa ou aprender a perder e também a ganhar.

Uma simples história conta que um dia uma mãe levou o filho até Ghandi e pediu-lhe que fizesse algo para que o filho começasse a comer arroz. Ghandi, calmamente pediu que a mãe voltasse com o seu filho passado uma semana. Após uns dias os dois dirigiram-se novamente a Ghandi. Este virou-se para o filho e disse-lhe “A partir de hoje irás comer arroz”, virando-lhe depois as costas. A mãe, algo estupefacta, afirmou “Porque me mandou voltar passado uma semana para lhe dizer somente isto?”. Ghandi respondeu-lhe que há uma semana também ele não comia arroz.

Hoje acredito mais no que faço e que sou melhor também por isso. Não me basta coração ou emoção, mas ajuda. Junto a isto um conhecimento académico e prático e proporciono a hipótese de aprender mais ou acomodar-me.
O trabalho efectuado com várias populações deu-me a conhecer as potencialidades da actividade desportiva e recreativa como forma de ensinar novos e velhos, populações carenciadas e privilegiadas, do interior e do exterior, activas e sedentárias, interessadas e desinteressadas.

E olhando para o nosso país, algo vai mal nas pessoas que estão à frente de todo um fenómeno desportivo. Não acredito que estejamos a ‘8’, mas estamos sem dúvida longe, muito longe, do ‘80’.

Existem bons dirigentes desportivos, mas poucos deles em posições de decisão. Exemplos de más decisões, corrupção, dívidas, politicas desajustadas, ‘quintais’, etc. Fico com algumas dúvidas se será a imagem do país ou o contrário.
Falo muito para além de o facto de continuarmos na cauda da União Europeia no que diz respeito ao índice da prática desportiva. Claro está que tudo terá uma relação.

Mas é estranho, sem dúvida, utilizar o desporto como forma de desenvolver competências e que serão alicerces na forma como encarar desafios na vida em geral e continuarmos (de forma crescente) a ser bombardeados com exemplos como temos sido.


Torna-se difícil definir as competências que os técnicos deverão ou não possuir, pois as áreas relacionadas directa ou indirectamente com o desporto são diversas. Seria talvez mais fácil ir pelas características que um profissional não deverá possuir!


Caberá a todos decidir se queremos continuar a ser um país que vive de dirigentes desportivos (e não só) mesquinhos, que investem o seu tempo no mal dizer e na procura incessante do protagonismo, ou pretendemos algo sério, aproveitando as oportunidades criadas pelo desejo das pessoas quererem algo melhor e começarem a ficar fartas de viver neste mar de oportunidades de fazer mal e de contínua impunidade.

Sei que o desporto ajuda-nos a ser activos e empreendedores, obriga-nos a pensar em estratégias e soluções, potencia situações de sacrifício e espírito de equipa, ocupa a mente e o tempo com qualidade, mas até quando existirá a diferença abismal que temos assistido entre o dizer e o fazer?"

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Como gerir as boas dores de cabeça?

O primeiro texto da época desportiva para o Mais Futebol! Aqui vai.

Após o término do mês de Agosto e a época mais agitada de entradas e saídas nos plantéis, aos poucos os treinadores vão arrumando as ideias e as posições nos plantéis. Não as posições táticas de cada jogador, mas sim, as posições quase que hierárquicas nas suas equipas. E com isso, posições em constante mudança considerando os estados físicos, táticos e mentais de cada jogador.

A verdade é que com maior ou menor dificuldade, as equipas, especialmente os grandes, conseguiram recompor os seus plantéis mesmo com as saídas que todos os anos dão alguma receita às suas contas e por outro lado, levam quase sempre os melhores jogadores do plantel.

O campeão Benfica tem dois jogadores de créditos firmados para quase todas as posições – talvez Jonas seja o único que ainda não tenha um substituto quer em termos de qualidade quer em termos do que faz e do que pesa para a equipa – e existem zonas onde há mais do que dois jogadores. O Sporting de Jorge Jesus soube nos últimos dias de mercado salvaguardar a necessidade de ter um plantel mais equilibrado, especialmente do meio-campo para a frente com a entrada de vários jogadores, uns a título definitivo e dois emprestados. O Porto com algumas segundas opções como foi o caso de Boly, mas a verdade é que Oliver e Diogo Jota permitirão que no meio-campo e no ataque possam existir vários modelos que são possíveis face aos atletas que entraram, sendo um deles e bastante importante, o recuperado Brahimi.

Como gerir qualidade? Como manter os atletas constantemente motivados mesmo quando não jogam, sabendo que por vezes e por estranho que pareça, mesmo jogando podem não estar totalmente motivados? E a qualidade que para o adepto está lá e que o treinador não tem a mesma opinião? Ou qualidade que não conseguimos ainda observar, mas o treinador vai conseguir descobrir?

Manter jogadores motivados e focados que à partida podem pensar que a sua qualidade e dedicação é suficiente para ter o tal lugar no onze não é nada fácil. Lê-se e relê-se várias entrevistas de jogadores que por vezes estão desmotivados ou descontentes e percebemos que acima de tudo há necessidade de responder às exigências pessoais. Os tais objetivos individuais. E que desejaríamos todos que estivessem sempre abaixo e alinhados com os coletivos, mas isso é uma enorme miragem.
Como explicar a alguns jogadores que o seu momento não chega porque os ‘outros’ não falham? Não dão margem? E porque têm mais ferramentas na opinião do treinador?

Costuma-se afirmar que isto é um bom problema para os treinadores. Ter em excesso é melhor do que não ter. Até pode ser verdade, mas também não é mentira que essa situação proporciona tantas ou mais dificuldades, pois deixa de haver necessidade de criar opções e alternativas para procurar e encontrar soluções para posições ou adversários e passa a existir a necessidade de saber gerir jogadores que estão motivados em excesso e não podem contribuir com aquilo que eles mais gostam.

Em conversas com alguns treinadores sobre estes temas, percebe-se que há treinadores que observando estas situações e quando os jogadores começam a deixar-se ir, tentam resgatá-los dando oportunidades. Mas o jogador pode não estar efetivamente preparado e não só perde o que já poderia ter, como perde ainda mais oportunidades futuras. Outros treinadores consideram que jogando os mais preparados não existe modelo mais justo que esse. E quem quer aceita quem não quer…

segunda-feira, 11 de julho de 2016

As lições da nossa seleção para as equipas nas empresas

O desporto sempre foi um dos campos onde as organizações procuraram exemplos, conhecimento e modelos para identificar, transferir e adaptar para as suas equipas de trabalho. Especialmente a liderança do treinador e de equipas, um dos campos mais fascinantes, num ambiente altamente competitivo, cooperativo e onde o trabalho individual e coletivo dos jogadores estão interligados.

Esta seleção, até pelo modo pouco convencional como foi sendo construída e moldada à imagem do seu treinador e daquilo que o líder considerou ser o mais indicado para o objetivo e com os recursos que tinha ao seu dispor, possibilita a todos nós retirar algumas ilações importantes para o nosso dia-a-dia. Especialmente para as equipas empresariais, sempre em busca de boas práticas para conseguir elevar o seu patamar de desempenho.
As equipas devem estar em constante aprendizagem e desenvolvimento para se manterem competitivas. E a nossa seleção demonstrou isso mesmo. Conseguiu que o seu ciclo de existência para este campeonato assumisse um ritmo de crescimento. A formação e o treino permitiram que se conseguisse adaptar, competir, produzir, ser mais segura, melhorar e alcançar os objetivos.

A seleção liderada por Fernando Santos, ao contrário de outras equipas desportivas, foi sempre pouco autónoma. Mas foi aí que o selecionador português encontrou o equilíbrio desta equipa. No entanto e ao contrário do que a investigação refere, estes processos mais controladores implicaram constantemente processos coletivos e que foram reforçados, especialmente, porque o seu funcionamento era de coesão, com uma dinâmica simples mas suportada por um controlo emocional elevado.

Retiraria três lições em especial para as empresas:

1- Predisposição interpessoal: Esta é uma das características que os CEO’s mais referem que gostariam que as suas equipas de trabalho alcançassem. E que na opinião deles faz diferenciar uma equipa de elevado desempenho de outras equipas menos competitivas. E a nossa seleção demonstrou que é mesmo uma das características que suporta o sucesso. O talento é importante, bons executantes, objetivos ambiciosos, etc. Mas a capacidade de os vários elementos de uma equipa estarem predispostos para ajudar os outros, estarem atentos se o colega vai realizar a tarefa com sucesso ou não, e estar lá sempre que seja necessário colmatar o erro, permite que um erro seja constantemente solucionado e mais do que isso, reforça o espírito de união e coesão da equipa.

2- Coesão e espírito coletivo: Mais do que palavras, vários exemplos foram-nos dados especialmente a partir dos jogos a eliminar. Suporte de alguns jogadores a outros. A capacidade de quando alguém parecia cair, ir outro colega levantá-lo. A capacidade que os jogadores demonstraram juntamente com o líder para colocar a clubite de lado. Importante, se não mesmo, essencial.

3- Abnegação da zona de conforto: Talvez a característica que mais surpreendeu nesta seleção. Mérito da sua liderança. A capacidade que o líder demonstrou para colocar dois, três ou quatro jogadores a jogarem fora da sua zona de conforto e que nem mesmo assim, retirou o espírito de luta, entrega e compromisso.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

O coaching e para que pode servir

Existem momentos e acontecimentos, que muitas vezes nem são nossos, mas que entram nas nossas vidas e quando damos por eles, passamos a fazer parte deles ou eles da nossa vida. Isto para dizer que existiram tempos em que procurava compreender o específico que definia quem vencia mais e porquê. Aquilo que poderia ser único. O que diferenciava, pensando eu que aquilo que diferenciava um bom desempenho estava naquilo que era diferente.

Hoje não. Através e após um conjunto de experiências sociais, organizacionais, educacionais e desportivas, cada vez mais me convenço que aquilo que é o transversal é o que pode diferenciar. Não porque é igual ou acessível a todos, mas sim, porque é aquilo que está presente em todos nós e é aí que está uma das chaves do sucesso: ser perito e eficiente no que é a base do nosso comportamento e desempenho. Nas nossas cognições, crenças e sensações.

E no desporto, no treino e na liderança, aquilo que é transversal são as pessoas implicadas nos processos e nos resultados. Nos atletas, treinadores, dirigentes, árbitros e líderes. Claro que cada um destes tem um contexto diferente. Mas será que esse contexto tem mais força naquilo que é a nossa resposta do que nós próprios? Se calhar sim, mas não deve. E quantos de nós tem um autoconhecimento tão claro que possamos descrever-nos com exatidão e com isto, saber em que concretamente somos bons, menos bons, pontos comportamentais fortes e áreas a trabalhar?

O coaching no desporto veio para ficar. Seja com este nome ou com outro, o trabalho realizado na análise dos comportamentos, das nossas ações ou reações, do acompanhamento não ao que o treinador faz mas como o faz, são cada vez mais ferramentas que nos possibilitam ter menos dúvidas sobre as verdadeiras razões que nos levam a comportar de determinado modo. E as vantagens e desvantagens. A saber como e onde alterar para atingir o que se pretende. Perceber a nossa mente e com isso, melhorar o nosso impacto comunicacional, as nossas abordagens, os nossos estilos quando estamos a fazer algo.

Mas não interessa apenas compreender o que fazemos e o as variáveis do como, onde, porquê ou até, com quem criamos mais ou menos sintonia funcional. Interessa também compreender o que somos, até porque isso pode ser a base de explicar o comportamento de um treinador, atleta ou a identidade da equipa.  

Nos desportos americanos, fruto do seu processo de cultura e educação desportiva, os treinadores são obrigados durante o seu percurso de crescimento e desenvolvimento de competências, a realizar constantemente processos de introspeção, de análise, a terem indicadores para se avaliarem e não apenas avaliarem os atletas. O coaching possibilita isso. Um processo estruturado de observação, por exemplo. Usualmente acompanho treinadores. Observo, escuto, aponto, analisa-se e trabalha-se a informação. Esta é muito rica, nós não precisamos de muito mais. Com a informação conseguimos garantir os pontos de partida. Analisar corretamente a informação que os comportamentos nos dão é que não é nada fácil.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Artigo O que faz um treinador campeão?

Artigo aqui:

O que faz um treinador vencer mais do que os outros é um tema que cativa quem gosta de futebol ou de outro qualquer desporto.

Passamos horas a fio, se necessário, a justificar as razões que levam alguns treinadores a conseguir retirar dos seus atletas e equipas melhores rendimentos do que outros. E nem sempre aqueles que o conseguem são os campeões.

Primeiro, porque apenas pode existir um campeão por competição e depois, talvez ainda mais importante, porque há treinadores que fazem trabalhos espetaculares e que potenciam e superam em muito o rendimento habitual dos seus atletas, mas mesmo assim, isso não chega para levá-los a atingir objetivos.

De regresso à questão, há duas formas de responder a esta pergunta. Uma muito simples e outra bem mais complexa, se é que terá mesmo uma resposta estilo-receita.
É campeão quem vence mais, quem supera os adversários em pontos.

A segunda forma de responder é bem mais complexa. Quais são concretamente as ações e crenças de um treinador campeão? Será que são muito diferentes de quem nunca vence e tem as mesmas condições de trabalho e recursos para sê-lo? O que fará a diferença num treinador para que, em determinados momentos, vença mais?

Pontos comuns e de divergência

Retiramos os fatores sorte ou azar. Existem, porque o jogo em si tem esses fatores inerentes, mas existem para todos. Passamos à frente e entramos nas áreas das ações, liderança e relações de um treinador. O que faz e e o que pensa?
Para se chegar a uma conclusão, entrevistaram-se doze treinadores de desportos coletivos que se sagraram campeões nacionais em seniores. E o que se constatou foi:
  • Em áreas como a comunicação, motivação, relação consigo próprio ou com os atletas, regras coletivas, retórica do treinador e métodos de treino e organização existem semelhanças. Ou seja, existe claramente um denominador comum que, não invalidando o facto de cada treinador ser naturalmente diferente de um outro, mantém aspetos iguais nas áreas fundamentais da função de orientar uma equipa;
  • Contudo, também existem diferenças evidentes nestas mesmas áreas. Menos e não sabemos se têm maior ou menor impacto na obtenção dos resultados. Mais interessante do que olhar para as diferenças é ver que algumas ideias são precisamente opostas, o que pode levantar a certeza de que não existem caminhos únicos para se chegar ao mesmo objetivo;
  • As competências comportamentais mais referenciadas pelos treinadores são a capacidade de se ser flexível perante as condições que encontram, e a adaptabilidade. A relação com os jogadores e maneira de lidar com as especificidades de cada atleta, a interação com os dirigentes, a diferente abordagem que merecem os vários contextos competitivos e até a forma de estar e ser perante o grupo são fundamentais. Quem não conseguir ser flexível e ter capacidade de adaptar-se não consegue o compromisso, a entrega, a união e a inteligência coletiva tão necessárias para poder-se atingir elevados desempenhos;
  • Não há receitas e os treinadores confessam em unanimidade que um dos denominadores comuns que gera o sucesso é a capacidade de o treinador conseguir duas coisas: perceber qual o perfil de liderança mais eficiente para o contexto que está inserido; e a capacidade de ser aquilo que o contexto necessita, sendo que aumenta a capacidade de sucesso se o seu perfil intencionalmente genuíno estiver próximo deste;
  • Um terço dos treinadores que participou neste estudo foi campeão com equipas femininas, sendo que houve respostas específicas por parte dos mesmos. O que poderá levantar possíveis pistas para perceber se a liderança em contextos femininos, na opinião de um treinador, terá de ser diferente ou não da do contexto masculino;
  • Há quase uma bipolaridade das ações de liderança de todos os treinadores, que passa por equilibrar a sua intenção de liderar e controlar tudo, ao mesmo tempo que verbalizam que as ações dos jogadores são aquelas que menos podem controlar.
O treinador tem impacto brutal no jogador
Sabe-se que ninguém é campeão copiando o que um outro campeão faz.
Não faz sentido pensar-se de modo igual apenas por intenção, porque o cruzamento das ações, crenças e sentimentos altera o produto que um treinador fabrica. Nem copiar porque os recetores – os atletas – da liderança, mensagem e ação são diferentes, e isso condiciona em muito a eficiência de um técnico.
Por outro lado, sabemos que a mensagem tem de ser captada pelo atleta. Que o treinador tem um impacto brutal no desempenho e entrega do jogador. Que as regras coletivas têm de aportar a competência individual e coletiva. E que, não havendo receitas, há comportamentos que geram quase sempre insucesso e incapacidade do jogador e da equipa em querer estar com o treinador onde quer que seja. 
*Este artigo é baseado num estudo composto por entrevistas a doze treinadores de desportos coletivos, que foram campeões por clubes no escalão de seniores e na principal competição do país onde treinaram. 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Será que é mesmo possível ler o futebol (apenas) pelos números?

Somos confrontados a toda a hora, durante todos os dias e mesmo fora da época desportiva, com números e mais números. Estatísticas individuais, coletivas e das competições. Estuda-se quem corre mais, quem passa mais, melhor e para onde, os índices físicos e muito mais.

As equipas técnicas, mesmo de clubes com menores recursos e a participar em competições menos formais, têm à disposição um conjunto enorme de dados. E aqui existem treinadores que tomam mais ou menos decisões a partir dos dados estatísticos que são gerados pelos seus jogadores e/ou fornecidos pelas diversas ferramentas.
Mesmos aqueles que gostam de ver o desporto e o futebol de um modo mais apaixonado também se agarram aos números. A verdade é que todos nos agarramos. Quem marca mais. Quem defende mais. Em termos coletivos, tudo serve para comparar e hierarquizar uma equipa à frente da outra. E se os treinadores assumem explicitamente que tomam decisões de acordo com os sentimentos, experiência, o tal feeling, também gostam de diminuir esse erro subjetivo da análise de uma situação através da intuição ou dedução com o recurso aos dados estatísticos.

A questão é saber, se é que podemos ter uma resposta quantitativa, qual o peso dos números no futebol hoje durante a gestão e o treino de uma equipa?
Quantas decisões tomadas por parte de uma equipa técnica ou do treinador principal surgem considerando os dados que lhes são fornecidos na hora ou durante a preparação de um jogo?

A tomada de decisão é semelhante com ou sem dados estatísticos
Estudos sobre a tomada de decisão do ser humano indicam-nos que o processo é muito semelhante antes e após receber informação relevante. Talvez porque a emoção se sobreponha muito à razão nestas questões, ou porque os técnicos dão muito valor às crenças e sentimentos na hora de uma decisão e aí estas levem a melhor sobre os  dados estatísticos.

A utilização de números e estatísticas requer, até mais do que bons números, duas necessidades: estar predisposto para receber e utilizar dados quantitativos; e saber ler esses mesmos dados.

Aqui enquadra-se outra matéria muito interessante: não olhamos todos para os mesmos lances do mesmo modo, tal como não observamos os dados e retiramos todos as mesmas conclusões. Então em que ficamos? A inclusão de estatísticas no futebol, tal como são utilizadas de modo intensivo nos desportos americanos a tal ponto de terem surgido situações como as que geraram o livro e, posteriormente, o filme Moneyball, uma história verídica de Basebol  será mais tarde ou mais cedo uma realidade com impacto no dia-a-dia de um treinador.
Mais do que ter milhares de dados é importante ter e saber ler aqueles que nos podem interessar.»
Não nos parece que as estatísticas e dados quantitativos sejam suficientes para tomar boas decisões. Nem no futebol nem em muitos outros campos. São um instrumento relevante? Sim, mas mais do que ter à nossa disposição milhares de dados, é mais importante ter e saber ler aqueles que nos podem interessar para as decisões que temos de tomar.

José Mourinho, Pep Guardiola, Rui Vitória, Jorge Jesus, Claudio Ranieri... Acredito que todos eles recebam de um modo filtrado um conjunto de informações que geradas após a utilização de dados quantitativos.

Também acredito que às vezes informem alguns destes treinadores que o jogador X está com melhores resultados em determinados indicadores importantes que o jogador Y, e que os mesmos, paradoxalmente, continuem a optar pelo que apresenta piores índices. Porquê? Só a cabeça de um técnico pode ter a resposta, embora possamos especular, com algum grau de certeza, que ainda há muita informação num jogador, equipa e treinador longe de ser captada por estatísticas.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Estrutura vs treinador (parte II): o que esperar deste Benfica, e um Porto mais eficiente

Segunda parte do meu artigo no site Mais Futebol sobre a importância e o impacto das estruturas e das lideranças. Uma discussão acima de tudo sobre pessoas e organizações, que pode ser realizada quer no âmbito empresarial quer noutro âmbito como o desportivo!



"Ainda sobre o tema São as estruturas que têm mais impacto na continuidade das vitórias dos clubes ou, pelo contrário, os treinadores os grandes diferenciadores pela positiva? – e no qual já chegámos a algumas conclusões, tendo claramente por adquirido que ninguém vence sozinho – as questões para uma segunda fase da discussão devem ser as seguintes:
  1. Qual o clube que melhor gere a continuidade do treinador?
  2. Quem gere melhor a substituição do líder e continua numa senda vitoriosa?
A sete jornadas do término do campeonato, o Benfica mantém-se no topo com uma pequena vantagem de dois pontos. Alinhando com a temática do artigo, podemos observar que o clube da Luz pode conquistar o quinto título nestas condições, ou seja, numa época posterior a um título de campeão nacional com outro treinador ao leme. Chamemos a estas épocas épocas de transição.
Dos 34 títulos até ao presente momento, 11,76 % das suas festas no Marquês surgiram na sequência de épocas de transição. Nestas situações, o FC Porto é claramente a equipa que melhor gere estas mudanças, tendo ocorrido quase todas nas duas últimas décadas. Dos 27 títulos de campeão nacional, a equipa do Norte conseguiu 18,51 % dos seus campeonatos em épocas de transição (continua...)"

terça-feira, 8 de março de 2016

A parte mental das equipas

As equipas desportivas produzem muito mais do que resultados desportivos ou tabelas classificativas. Produzem acções e muita informação fruto das dinâmicas que apresentam e que perfazem a sua identidade colectiva. Complexa e diferente da soma das identidades individuais dos seus atletas ou treinador. Nesta Liga as três equipas de futebol denominadas 'grandes' têm sido sem dúvida excelentes casos de estudo. Equipas que variaram muito as dinâmicas de jogo durante a época.

A questão que se pode fazer é: o que leva a esta variação por vezes tão grande de estados emocionais e com isso, de produtividade? Ou será o inverso?

Para quem não esteve atento aos sinais implícitos das equipas, há sempre sinais comportamentais e da dinâmica de grupo que denotam pequenos dados para consequências futuras a curto ou médio-prazo. Até por que uma derrota, por mais importante que seja, não causa o impacto a uma equipa que esteja estável nos vários pilares que perfazem uma dinâmica de grupo forte e equilibrada.

Uma equipa durante o planeamento da época, nos jogos e nas competições apresenta dezenas de processos comportamentais. Desde da inclusão de novos atletas ou dirigentes, do alinhamento de todos, responsabilização, compromisso colectivo, organização, comunicação, motivação, definição de tarefas e objectivos individuais e colectivos, etc. São vários os processos que é possível aferir durante um jogo e que contribuem em muito para o resultado do jogo ou da competição.

Também existem os direitos ‘adquiridos’ que a equipa assume quando os acontecimentos já estão pré-definidos na sua mente. Na sua identidade comportamental como um todo. Sem querer colocar em causa a qualidade dos elementos que compõem as equipas técnicas, existem alguns sinais importantes para o casamento perdurar:

- Estabilidade emocional adquirida e profunda, que não é curada com o tempo, mas sim com a alteração de alguns elementos que compõem a identidade da equipa;
- Medir exactamente o impacto da possível saída ou manutenção um a um na equipa;
- Uma higiene mental que está boa ou deturpada em função de uma ideia pré-fixa dos acontecimentos futuros.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Entrevista a Rui Lança ao WiCoach...

O Coach Rui Lança, autor de vários livros, formador e professor nas áreas da Liderança, Comunicação e Gestão de equipas está na Wicoach. Nesta entrevista fala sobre si e sobre aspetos, cada vez mais relevantes, no dia-a-dia do Treinador. A não perder!!

Quem é o Rui Lança e a sua ligação ao Futebol?
O Rui Lança é uma pessoa normal que tem diversos interesses, que adora descobrir o porquê e o como das coisas, ver as mesmas coisas com perspectivas diferentes, sou curioso, mais interessado do que interessante. E uma das áreas que me apaixona é o Futebol. A minha ligação é como ex-praticante, agora de um adepto, um investigador de matérias relacionadas também com o Futebol, consumo Futebol nos jornais, tv, net, ao vivo, nas relações interpessoais.
 
Como foi o seu percurso até a este momento?
Em termos profissionais desde de muito cedo quis fazer o que faço sem saber que esta profissão existia. Nasci e vivi muito perto do Jamor e por isso, entrar no ISEF era algo que me guiava. Licenciatura e Mestrado lá, sempre com muito desporto no meio, à volta, em tudo. Em 2002 tive uma experiência através do Conselho Europeu na Dinamarca e a partir daí a minha vida mudou. Descobri a educação não formal, a facilitação, coaching, lideranças diferentes, recebi e dei formação em muitos países europeus, Brasil, em África, EUA, e com isso, comecei a dedicar-me muito ao Coaching e Desenvolvimento de Competências. Quase sempre numa perspectiva de trabalhar em várias áreas empresariais e desportivas, para lá de lecionar no ensino superior. Hoje com cinco ou seis livros publicados e a tirar o doutoramento, não sei o dia de amanhã.
 
Como é que o Coaching entrou na sua vida?
Naquela experiência na Dinamarca em 2002 descobri um novo modo de estudar, trabalhar, relacionar, liderar, etc. Fui alimentando-me muito dessa procura de mais conhecimento nessas áreas. Em 2006 numa Pós-graduação em Liderança e Gestão de Pessoas, tive uma cadeira que era de coaching e a professora dessa cadeira aconselhou-me a estudar mais porque considerava que aquilo era a minha ‘cara’. Parece que acertou. Em 2007 tirei uma credenciação internacional de coaching e desde daí…faço coaching individual, formações, coaching de equipas, etc.
 
Para que os nossos treinadores tenham uma ideia mais concreta, poderia dizer-nos o que é o Processo de Coaching?
Um processo de coaching é complexo ser explicado em poucas palavras. Acima de tudo é um conjunto de passos e ferramentas utilizadas na procura do desenvolvimento ou conquista de competências mais comportamentais. Em nós ou no outro, sendo uma pessoa ou uma equipa. Aposta muito nas ações, objetivos, prioridades, passos, compromisso, auto-responsabilidade, etc. E depois cada caso é um caso. Eu faço com alguns treinadores, atletas, equipas.
 
De que forma o processo de coaching pode ser útil a um treinador de futebol?
Acima de tudo porque lhe permite desenvolver competências menos trabalhadas ou menos eficientes nele próprio. Logo aí é uma mudança quase drástica no modo normal de um treinador que quase sempre se foca exclusivamente nos outros. E não é por mal, acredito. E permite-lhe também ter outro tipo de ferramentas e mais eficientes e a médio-logo prazo com melhores compromissos para aplicar nas suas equipas. Seja na dinâmica de grupos, na interação com as pessoas, o modo como avalia a sua prestação, se a mensagem chega ou não.
 
Que características são essenciais para se ser um líder de sucesso, enquanto treinador de futebol?
Conquistar os objetivos. E que os mesmos sejam quer ambiciosos quer exequíveis. A pergunta correta hoje é talvez procurar o que têm aqueles que mais ganham. O que fazem. O que pensam. O que sabem. É um trabalho que estou a desenvolver. Podemos perceber que conquistar quem com eles trabalham é fundamental. Que a sua mensagem passe. Que o objetivo seja grupal. Que exista predisposição para os outros, colegas, e exigência. Mas não sabemos certamente ainda o ‘modo’ e o ‘como’, ou seja, observando estes dois sinais como receitas. Não há.
 
Já referiu a importância do coaching junto do treinador. E em relação aos jogadores (processo individual) e à equipa (processo colectivo), de que forma pode ser útil o Coaching?
Quase que na mesma perspetiva. Permite que o atleta possa ser um melhor auto-conhecimento. Seja mais determinado, saiba como lidar com receios, motivações, obstáculos. Saber definir objetivos por exemplo, que se fala tanto, mas muitas vezes um atleta perde-se muito aí.
 
Da sua experiencia desta área que estratégia já tenha utilizado e que nos possa contar?
A estratégia principal, por muito que possa parecer simplista, mas que é a mais eficiente é estar predisposto para ajudar o outro sem que ele não compreenda por si das vantagens e das consequências. E para isso é um trabalho sempre diferente, que muda ou é alterado de dia para dia, sessão para sessão conforme o que sai da cabeça e da boca do outro. E por isso, com uns funcionam umas coisas com outros funcionam outras. Como um treinador que observe os seus atletas. O tratar todos por igual é mau, uma injustiça como dizia Phil Jackson.
 
De forma sucinta, que factores deve o treinador ter em conta na construção de um grupo?
Para que serve aquele grupo? Ganhar, andar ali, não perder, etc. Qual o objetivo, que direção vai tomar? O que tenho e o que considero que falta para poder alcançar? E do que falta o que pode ser trabalhado e o que tem de estar já garantido como matéria-prima. E depois toda uma área ainda mais importante, os processos e dinâmica de grupo como a inclusão, justiça, avaliação, reconhecimento, organização, comunicação, responsabilização e muito mais.
 
Como vê a constituição das equipas técnicas de futebol, as quais, na sua maioria, não tem um técnico especializado na área comportamental?
Pois…considero que o treinador em geral considera que toma ou pode tomar conta disso. Grave a meu ver é o passo anterior, que é o próprio treinador não trabalhar ele próprio essa área. Depois com os atletas, infelizmente ainda se vê muito a crença que o saber a que cheira um balneário chega para conquistar e lidar com um grupo. Não retirando a importância que esse ‘cheiro’ possa ajudar.
 
Na sua opinião, qual a maior resistência para que um técnico especializado no comportamento humano ainda não seja visto como relevante numa estrutura técnica?
O próprio técnico especializado. Tenho de pensar sempre que parte do que pretendo depende de mim. E no que não depende, como alterar ou ajustar-me. Esta pergunta ao treinador deveria ter como resposta o próprio treinador. Não posso acusar o treinador de não me aceitar. Eu tenho de perguntar-me o que tenho de fazer para ele me aceitar.
 
Vê-se integrado numa equipa técnica de Futebol? Como seriam as suas funções e a ligação com o Treinador?
Claro que sim. Muita coisa. Numa primeira fase trabalhar o treinador, o seu perfil, estudá-lo e perceber o que temos de fazer até chegar ao que ele idealiza. Conquistar a sua confiança, não achar que iria confiar em mim porque sim. E posteriormente, trabalhar o grupo, a equipa técnica como um todo. Dinâmicas, vídeos, interações individuais e coletivas.
 
Quais são os seus objectivos profissionais para o futuro?
Três: Continuar a fazer coisas pelas quais sou apaixonado. Conseguir construir valor sempre. E algo mais concreto, conseguir trabalhar com treinadores na área quer do coach deles quer ajudando nas equipas.
 
Pode-nos deixar algumas dicas como um treinador pode motivar a sua equipa?
A melhor dica é perceber qual a consequência que motiva a pessoa e a equipa. Depois existem muitas técnicas. Deixar a pior ou uma não técnica. Motivar os outros como nós gostamos de ser motivados. Isso é que é bastante errado. E saber que os atletas que possuem níveis maiores de auto-motivação, motivação intrínseca são mais auto-determinados, que duram mais na tentativa de alcançar os seus objetivos.
 
Qual a sua opinião sobre os treinadores Portugueses?
Excelentes. Têm muitas caraterísticas espetaculares, mas têm duas que a meu ver os diferenciam pela positiva: capacidade de adaptação e uma flexibilidade fantástica nas relações interpessoais e na gestão das culturas.
 
Que opinião tem da WI COACH?
Um excelente projeto. Uma excelente ideia. Algo que traz e constrói valor, e o que por si só, já é de uma coragem enorme, tentar e desafiar a normalidade.